segunda-feira, 17 de outubro de 2011

A corrida pela abóbora gigante

A corrida pela abóbora gigante

Cedo pela manhã, há cerca de um mês, Don Young removeu os lençóis florais de cima das aboboras gigantes que crescem no seu quintal. Ao caminhar cuidadosamente entre as plantas, ele conferiu a presença de buracos.
Debruçando-se sobre a abóbora mais próxima, tão alta quanto seu abdômen e maior do que um pneu de caminhão, ele lhe deu uma batida firme e escutou atentamente o fruto, como um médico utilizando-se de um estetoscópio.
''Esta aqui está fazendo um bom som’', ele disse com um sorriso.
Young é apenas um entre os muitos agricultores amadores cujo principal desejo é fazer crescer uma abóbora maior do que a do vizinho. Esses entusiastas sempre foram obcecados por essa ideia, mas agora possuem um motivo a mais para estarem assim. Com o atual recorde mundial de 821 quilos (para se ter uma noção, um carro Smart pesa 725 kg), esses plantadores querem ultrapassá-lo produzindo uma abóbora de uma tonelada. Estimulados pelo pelas boas expectativas, eles estão dobrando os esforços e desenvolvendo uma miríade de estratégias que envolvem hormônios naturais de crescimento, sobre-enxerto e outras, tudo para se tornar o primeiro a atingir o objetivo.
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As competições de abóbora do outono americano já começaram e cerca de 14 plantadores amadores já foram premiados com recordes regionais que ultrapassam a marca de 680 quilos. As competições estão longe de chegar ao fim e devem continuar a todo vapor nas próximas duas semanas, mas uma abóbora, plantada por Dave Stelts em Edinburg (Pensilvânia), já conseguiu ultrapassar o recorde mundial em 1,4 quilo. Os boatos que se espalham afirmam que o recorde deverá ser quebrado por alguém na Califórnia.
O verão extremo deste ano fez a expectativa de vários criadores do Meio-Oeste cair por terra, entre eles Young. Mesmo assim, ele planeja entrar na briga com duas abóboras de 590 quilos para bater o recorde em Wisconsin ou Minnesota durante o final de semana. E em virtude da natureza compulsiva de seu hobby, embora Young esteja se preparando para essas duas competições, ele já começou a bolar as estratégias para o próximo ano.
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Aparador profissional de árvores, Young, 47 anos, gasta US$ 8 mil por ano no seu hobby de abóboras, um dinheiro que ele admite não ter. Sua casa de um quarto é muito menor do que seu quintal. ''Se você for tentar ganhar a vida plantando abóboras, é melhor ter alguma reserva financeira’', disse, mencionando seu trabalho diurno.
Young estabeleceu o recorde de abóbora tanto em Iowa quanto na Califórnia (em 2009 Conan O’Brien estourou uma das suas abóboras gigantes com um monster truck num canal de televisão) e ele é o líder entre aqueles que estão desenvolvendo novas técnicas de cultivo. Young inventou uma técnica de enxerto que puxa os nutrientes e a energia de dois pés de abóbora para um único fruto. Outros competidores estão experimentando ZeoPro, um coquetel sintético de supernutrientes desenvolvido pela Nasa para o cultivo de alface e outros vegetais comestíveis no espaço.
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Neste ano, alguns criadores também testaram uma solução em pó rosa de bactérias que converte a produção de metano da planta em um hormônio natural encontrado em algas marinhas. Denominado de PPFM (sigla em inglês para 'metilotrofo opcional pigmentado de rosa’), a substância ainda não está no mercado, mas o atrativo de uma abóbora de 907 quilos fez com que esses plantadores obtivessem algumas amostras da empresa responsável pelos testes com as bactérias, a RTI, de Salinas, Califórnia.
''Esses caras tentam de tudo para conseguir uma vantagem contra os seus adversários’', explicou Neil Anderson, presidente da RTI.
Na verdade, o mais comum é que os cultivadores alimentem suas abóboras com um composto fermentado (água misturada com minhocas, melaço e kelp líquido) tão rico que os frutos podem chegar a ganhar 23 quilos por dia.
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''Gosto de dizer que somos apenas um grupo de pessoas obsessivas-compulsivas’', contou Stelts, de 52 anos, presidente de um grupo de entusiastas por abóboras gigantes chamado Great Pumpkin Commonweatlh. ''O que nós fazemos para conseguir abóboras desse tamanho não tem limites’'. Young disse que algumas vezes ele simplesmente se senta ao lado das suas abóboras.
''Isso pode parecer realmente louco, mas quando as abóboras estão no pico de crescimento, elas fazem um barulho’', disse. ''Você pode escutar. É algo que brota da própria abóbora: 'bup, bup’''.
Quando a temporada chega ao fim, cultivadores como Young sempre transportam suas criações para exposição em feiras ou jardins botânicos; com cascas de 30 centímetros de espessura e pouco açúcar, as abóboras não são apropriadas para fazer tortas. Mas o fato de não serem comestíveis não impediu que plantadores amadores como empreiteiros, médicos e parteiras as cultivassem.
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O BigPumpkins.com, fórum sobre o mundo das abóboras gigantes com formato semelhante ao Facebook, agora recebe mais de 1 milhão de visitas únicas por mês. De acordo com a Great Pumpkin Commonwealth, em sete anos o número oficial de abóboras gigantes cresceu de 22 para 92 e agora inclui competidores na Itália, na Finlândia e na Austrália.
Os veteranos afirmam que é muito fácil cultivar abóboras gigantes, desde que se tenha uma boa semente e se faça um bom preparo do solo. Mas a elite do hobby, embora ainda amadora, joga em outro nível. Esses plantadores gastam centenas de dólares em análises laboratoriais de solo e tecidos vegetais para obter ajuda na hora de decidir se devem ou não adicionar mais nitrogênio ou cálcio ao solo. Eles também aceleram o processo de fotossíntese pela pulverização das folhas da planta com dióxido de carbono.
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''Nós tomamos o controle de um processo natural’', explicou Steve Connolly, 56 anos, plantador de Sharon, Massachusetts, cujas abóboras sempre se classificam entre as dez mais pesadas do mundo. O controle começa com a polinização, processo cujos criadores tiraram das abelhas. No começo do verão, eles mesmo preparam o cruzamento entre as abóboras, selecionando a flor masculina de uma planta e esfregando seu pólen na flor feminina de outra. Quando brotam as abóboras extras, elas são igualmente removidas. As plantas não são simplesmente podadas, mas sim recebem uma 'manicure’.
Mas um forte indicador do tamanho da abóbora é a semente. Ela é o fator mais rentável na busca por gigantes. No último outono, Chris Stevens, 33anos , empreiteiro de Wisconsin que conseguiu produzir a abóbora de 821 quilos, vendeu uma única semente por US$ 1.600, até hoje a maior quantia que já foi paga por uma semente de abóbora. E suas descendentes podem se mostrar igualmente valiosas.
A jardinagem radical envolve dinheiro e sacrifício. Young se acorda no meio da noite para vigiar as suas abóboras. Ele usa entre 102 e 206 litros de água por mês (quase que suficiente para abastecer uma família de quatro integrantes durante um ano) e possui 80 borrifadores. Depois de plantar a sementes no solo frio de abril, ele deixa lâmpadas de aquecimento acesas durante a noite e esfria as abóboras com ventiladores que sufocam o calor do verão. Ele não tem memória da última vez que tirou férias.

Mas, apesar de todo trabalho, as decepções são inevitáveis. Um jardineiro pode acarinhar suas abóboras durante meses e manter-se vigilante para afugentar a decomposição orgânica, a doença e o mau tempo. No entanto, algumas vezes os frutos gigantes são tão supernutridos que não sabem como fazer para parar de se alimentar.
Connolly lembra-se com tristeza de uma manhã há alguns anos, quando deixou suas abóboras para ir à igreja. Ele as deixou por menos de uma hora, mas ao retornar viu que a sua maior abóbora havia explodido em virtude da força do seu próprio surto de crescimento.
''A casca tinha uma rachadura de 30 centímetros’', ele contou. ''Ela simplesmente explodiu’'.
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A large pumpkin in the patch of Dave Stelts, who grows pumpkins for competition and has come within three pounds of beating the 1,810-pound record set last year, in Edinburg, Pa., Sept. 23, 2011. This fall’s pumpkin contests have begun, and as many as 14 amateur growers have won regional weigh-offs with entries tipping the scales at more than 1,500 pounds. (Andrew Spear/The New York Times)

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