quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Siginificado da amizade para os homens

Amizade masculina(NYT)



Às vezes é verdade que a faísca que inflama o trabalho estressante e grandioso de alguém surge no início da vida – mesmo por acaso.
Niobe Way era adolescente quando seu irmão mais novo, Lucan, teve uma briga terrível com seu melhor amigo. John morava no outro lado da rua; os dois rapazes eram inseparáveis. Um dia sua mãe flagrou os dois rasgando uma preciosa boneca de pano de infância. Ela leu para os dois a lei sobre a perturbação da ordem pública e mais algumas. John escapou.
Sete, oito vezes depois, Lucan batia na porta de John. Mas sempre falavam para ele que John não estava em casa ou que não queria vê-lo. A separação dos meninos abalou Lucan profundamente. Mesmo já adulto, casado e feliz, ele não gosta de falar no assunto, como relata Way, ''o garoto que cortou seu coração’'.
Recentemente, Way, agora com 47 anos e professora da Universidade de Nova York, onde é especialista em psicologia do desenvolvimento na adolescência com foco na amizade entre homens, refletiu sobre a experiência de seu irmão daquele tempo: ''Foi aí que me dei conta do significado da amizade para os meninos, no amor do meu irmão e seu sentimento de perda’'.
Amizade masculina(NYT)

A cidade de Nova York tem sido, em partes, seu laboratório. Seu novo livro, 'Deep Secrets: Boys’ Friendships and the Crisis of Connection’ (editora Harvard University Press), já faz parte do material de ensino das escolas Little Red School House e Elisabeth Irwin High School, escola particular de Manhattan, e é leitura obrigatória para professores da escola para rapazes Haverford, próxima a Filadélfia.
Way também é mãe de um menino de 11 anos, que joga futebol no Greenwich Village, e de uma menina de 8 anos, e ela enxerga as amizades de seu filho com orgulho e acerbidade: ''Adoro observar como os meninos se relacionam entre si dentro e fora do campo. Mas estou ciente de que isso acaba. Ele está ciente da expectativa de que um dia um garoto terá de escolher entre um amigo e uma namorada’'. Seu livro, compilado por 20 anos de entrevistas nos Estados Unidos e Nanjing, China, fala sobre como, para os garotos, a percepção de uma traição por um amigo é absoluta porque sentem que ''sua vulnerabilidade intensa’' foi exposta. ''E eles não sabem falar sobre isso, resolver isso. Para os garotos, isso é assustador’'.
Outro perigo potencial: por volta dos 15 e 16 anos, segundo ela, a taxa de suicídio de garotos nos EUA é aproximadamente quatro vezes maior do que a das garotas.
Way, uma falante alta e apaixonada que parece Ann-Margret na versão hippie, cresceu em Paris; Oberlin, Ohio; Palo Alto, Califórnia, e se formou em Berkeley e Harvard. Ela fala sobre suas descobertas como um clamor pelos garotos. Ironicamente, Way, cujo pai é um estudioso de clássicos, tem o nome de uma antiga rainha de Tebas, cujo orgulho em seus 14 filhos pediu aos deuses para abatê-los. No luto profundo de Niobe, ela se transformou em uma pedra, um símbolo de uma mãe marcada para sempre pela tristeza.
Mesmo assim, Way, quer que seu trabalho não seja uma muleta de apoio, mas um plano de ação.
Amizade masculina(NYT)
Apesar do estereótipo dos garotos adolescentes de criaturas barulhentas e emocionalmente confusas que se entrosam por meio de conversas sobre esportes e peripécias arriscadas, segundo ela, sua necessidade de amizade íntima é tão potente quanto para as garotas. Os garotos no início da adolescência falam abertamente sobre essas amizades para Way e seus pesquisadores, reconhecendo a importância de ter um melhor amigo que seja um baú e guardião de seus sentimentos mais íntimos.
Mas conforme os garotos vão ficando mais velhos, a intensidade dessas relações diminui. Os garotos temem ser vistos como 'afeminados demais’ ou até mesmo gays por expressar apego uns com os outros, e até mesmo por ter esse sentimento. Ela inclinou-se com urgência evidente: ''esta não é uma leitura acadêmica que estou fazendo. Os garotos estão cientes do poder de seus relacionamentos. Eles dizem abertamente: 'eu o quero, preciso dele, tenho saudades dele – não sou homossexual!' E depois eles crescem e ficam deprimidos’'.
Ela acrescenta: ''Os pais reforçam esse estereótipo. Eles me dizem: 'meu filho é supersensível, mas ele pratica esporte!'''
Celine Kagan leciona nas escolas Little Red School House e Elisabeth Irwin.
Um dia, um adolescente queixou-se de mal-estar. Kagan perguntou sobre as amizades dele. ''Ele disse: 'parece que estou mais distante deles. Quero falar com eles sobre as coisas, mas fico com medo de eles ficarem entediados’'', Kagan recorda. Ela pediu para ele ler o primeiro capítulo do livro de Way.
''Dois dias depois, ele não parava de falar sobre o assunto!'', ela continuou.
Amizade masculina(NYT)
''Ele falou que estava muito grato, que entendeu mais claramente o que estava acontecendo com ele e até mesmo com seu pai’'.
De fato, o término dessas relações faz parte do que transforma os garotos em homens taciturnos e emocionalmente desapegados, segundo Way. Ela mesma tem quatro melhores amigos – três mulheres e um homem.
Recentemente, ela terminou um casamento de 18 anos. ''Ele estava lutando para encontrar caras com quem pudesse ficar mais próximo’', disse ela, ''e eu pensei: tanto faz. Eu não levei as amizades a sério também. Na terapia de casais, a solução é a 'noite do encontro’. Mas para ajudar seu casamento, saia com seu melhor amigo! Passem um tempo longe um do outro! Como você pode obter tudo o que precisa de apenas uma pessoa?'' Ela também despreza filmes e programas de televisão que aliciam amizades íntimas entre dois homens: ''É apenas um código para sair e vomitar juntos’', disse ela.
Precisando esticar suas longas pernas, ela caminhou até o Washington Square Park, onde muitas vezes observa a interação entre meninos e meninas. No dia 11 de setembro deste ano, ela sentou-se em um banco do parque. Ela contou sete homens dispersos pelos cantos, sozinhos, cada um em seus mais de 30 anos, bem vestidos.
''Eram 8h30’', disse ela. A hora de lembrar do ataque do primeiro avião se aproximava. ''Estava tudo tão quieto. Ninguém falava ao telefone. Eles ficaram sentados ali, sozinhos com sua dor e não com seus amigos. Eu podia sentir uma profunda necessidade de uma conexão verdadeira’'.
Ela pergunta se os meninos continuarão a se sentir obrigados a ignorar essa necessidade. ''Finalmente, um cara veio até mim, um completo estranho’', disse ela. ''Ele só queria falar sobre esse dia. E depois foi embora’'.
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Niobe Way, a professor at New York University, in New York, on Sept. 16, 2011. Way has written a new book, "Deep Secrets: Boys' Friendships and the Crisis of Connection" about the significance of friendships for adolescent boys. (Jennifer S. Altman/The New York Times)
Jeniffer S. Altman/ The New York Times

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