Este é um assunto muito interessante vamos ver?
Criado em 1997, o projeto funciona como uma alternativa para os países em desenvolvimento na redução dos gases causadores do efeito estufa
O mercado de créditos de carbono foi criado em dezembro de 1997 pelos 184 países membros da Organização das Nações Unidas (ONU). O projeto faz parte do Protocolo de Quioto, acordo que entrou em vigor em 2005 e obriga os países signatários a reduzirem em 5,2%, entre 2008 e 2012, as emissões de gases causadores do efeito estufa.
As nações que não integram o grupo da ONU podem contribuir com a venda de créditos de carbono aos países que não conseguirem atingir a meta estipulada pela entidade. Para isso, foi criado o projeto Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), instrumento que permite a participação dos países em desenvolvimento na elaboração de iniciativas que reduzam as emissões dos gases causadores do efeito estufa (GEE). Nesse caso, essas nações ficam com créditos, que podem ser vendidos aos países que não atingiram a meta.
Apenas os países signatários do Protocolo de Quioto que não atingirem a meta estabelecida podem comprar os créditos (commodities), negociados nos mercados financeiros nacionais e internacionais. Os valores dos créditos podem ser vendidos por um país ou até mesmo por uma empresa que conseguiu reduzir a emissão de gases na atmosfera em até uma tonelada de CO2.
Além de evitar que toneladas de gás carbônico sejam soltos na atmosfera e gerar renda para países e empresas, o MDL incentiva o desenvolvimento de novos projetos ambientais nos países emissores de CO2. No Brasil, as empresas que lucraram com a venda desses créditos pertencem às áreas de papel e celulose, além de usinas de cana-de-açúcar e madeireiras.
O que é?
Sistema de compra e venda de projetos que reduziram a emissão de gases poluentes.
Como funciona?
Os créditos excedentes – gerados por países (ou pela iniciativa privada) que conseguirem reduzir as emissões – são vendidos para os países poluentes que não atingiram suas metas.
Como obter?
Os créditos podem ser obtidos diretamente nas empresas ou negociados na Bolsa de Valores.
Qual o valor desses créditos?
Cada tonelada de CO2 que a empresa ou país deixa de emitir equivale a um crédito de carbono, que pode ser negociado nos mercados financeiros nacionais e internacionais.
O mercado de crédito de carbono no Brasil
O grupo Plantar, em Minas Gerais, em parceria com o Fundo Protótipo de Carbono criou o Projeto Plantar. A iniciativa tem como objetivo incentivar o uso de carvão vegetal na produção de ferro primário, redução da emissão do gás metano e a plantação de eucalipto em áreas de reflorestamento.
No Rio Grande do Sul, as empresas Josapar e Cooperativa Agroindustrial desenvolveram um projeto de energia gerada com a casca de arroz. Os créditos foram negociados pelas duas companhias com a holandesa Bioheat Internacional por cinco dólares cada tonelada de carbono.
Desde 1992, quando sediou a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente, o Brasil tem ficado cada vez mais atuante no mercado de carbono global, mas ainda mostra muitas possibilidades para potencializar essa iniciativa.
Hoje, a
BM&FBovespa é um dos principais responsáveis pela negociação de créditos de carbono no país.Para isso, ela possui um ambiente eletrônico desenvolvido para viabilizar negócios com créditos gerados por projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL)
As regras de negociação e credenciamento dos participantes de cada leilão são divulgadas pela Bolsa por meio de editais a serem publicados no site da BM&FBovespa antes da data de realização de cada leillao.
Atitude sustentável
Cooperativas reciclam mais do que resíduos e geram trabalho para diversas famílias Cerca de 2 mil toneladas de plásticos, papéis, vidros e metais são reaproveitados todos os anos, graças ao trabalho da Cooperativa de Materiais Recicláveis de Guarulhos (Coop-Reciclável). Localizada na região metropolitana de São Paulo, ela recebe em média 150 toneladas de materiais por mês, que são separados, prensados e vendidos.
Este é apenas um exemplo de como essas cooperativas são importantes nas grandes cidades, que, com seus trabalhos, reduzem o lixo que vai para os aterros sanitários, além de gerar trabalho e renda para inúmeras famílias. Na Coop-Reciclável são 73 cooperados. “O salário-base hoje é de aproximadamente R$ 700 por mês, e a maioria são mulheres que sustentam a casa”, conta Maria Madalena dos Santos, da área comercial da cooperativa.
Especialização
Para trazer ainda mais valor à atividade que realiza há nove anos, a Coop-Reciclável capacitou cooperados a manusear lixo eletrônico. Impressoras, computadores, monitores e celulares agora são desmontados corretamente e os metais valiosos que os compõem, como cobre e ouro, vendidos a preços melhores.
O aprendizado foi possível por meio do Projeto Eco-Eletro – Reciclagem de Eletrônicos, desenvolvido pelo Instituto GEA, em parceria com o Laboratório de Sustentabilidade (Lassu), vinculado ao Centro de Computação Eletrônica (CCE) da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). “O curso é um incentivo para aumentar a renda das cooperativas e levar orientação à população para não jogar na rua esse tipo de produto, que possui substâncias contaminantes”, diz a presidente do Instituto GEA, Ana Maria Domingues Luz.
Segundo o Instituto, separar e classificar o lixo eletrônico por tipo de material e encaminhá-lo para diferentes empresas de reciclagem especializadas pode render aos catadores até 100 vezes mais. O curso acontece desde abril de 2011 e reúne dez interessados por mês. “A última turma está prevista para outubro de 2012 e a estimativa é que, até lá, tenham sido capacitados 180 catadores”, diz Ana Maria. “Se já fazíamos algo pelo futuro, com o lixo eletrônico vamos fazer mais”, ressalta Maria Madalena.
“A corrida verde já está em curso”
Para Marina Grossi, presidente executiva do CEBDS, a sustentabilidade é questão de sobrevivência para os negócios
As empresas precisam mudar o seu olhar sobre o tema da sustentabilidade para manter a competitividade no futuro. Essa é a avaliação da presidente executiva do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), Marina Grossi. O Conselho é representante do World Business Council for Sustainable Development, que trabalha na versão mundial do Visão 2050, a agenda de negócios focada na economia verde.Ser sustentável hoje é um diferencial ou uma condição para a sobrevivência nos negócios?
Sem dúvida é uma condição de sobrevivência. Já passamos dessa fase em que isso era percebido como um valor agregado para as empresas. Hoje, as empresas que estão à frente, que têm uma visão de futuro, têm clareza de que o tema deve entrar no core business.
Qual é a maior dificuldade enfrentada pelas empresas para se adaptar a essa nova realidade?
Talvez a maior dificuldade seja o fato das empresas estarem presas a velhos padrões – pensar que basta colocar um ingrediente a mais, usando os velhos critérios de lucro, ou que basta estar em conformidade legal ou ambiental. Ela não mudou o olhar e não percebeu que sustentabilidade é sistêmica, tem ramificações em todos os negócios e precisa ser vista de forma holística. O nosso desafio com sustentabilidade não é olhar para o lado, para o presente. É olhar para o futuro e perceber que os competidores estão lá.
E como alcançar esse futuro de forma competitiva?
Trilhamos um caminho que não está definido. Sustentabilidade pode ser traduzida por inovação, no seu completo entendimento. É preciso pensar tanto em inovação social quanto tecnológica. As empresas vão trocando experiências, práticas, consultando ONGs, governos, buscando consenso. Hoje, nenhuma empresa pode estar ausente da discussão do ambiente que ela está ocupando, do diálogo com os stakeholders desde o início do processo. Não cabe esperar. Cabe agir. Hoje, a corrida verde já está em curso.
Quais são os sinais e novidades dessa corrida? A Bloomberg está lançando novos índices em relação à economia verde. A intenção é ter índices específicos para energia solar, eólica, eficiência energética, veículos elétricos, tudo principalmente na questão da energia. Hoje, no Brasil, em parceria com outras instituições, fomos pioneiros na adaptação do Greenhouse Gas Protocol (GHG Protocol) para a realidade brasileira. Os gases de efeito estufa já estão no processo de medição das empresas. Apesar da lentidão do processo globalmente, é impossível imaginar que as empresas que estão hoje reportando, competindo na bolsa, associando seus índices de desempenho a ações e projetos de sustentabilidade, voltem atrás. Esse processo é irreversível.
Em que setores as empresas estão mais avançadas? A eficiência energética é uma questão mais fácil e divulgada em várias empresas são emissoras, especialmente as de energia, que têm isso desde o processo até o consumidor. No Brasil, há uma lei de resíduos sólidos que deve entrar em vigor em quatro anos. Isso vai levar a uma grande mudança no comportamento do consumidor e das empresas. É preciso se preparar.
Investimento verde
Empresas socialmente responsáveis ganham confiança de investidores
A rentabilidade das empresas deixou de ser o único foco dos investidores, que passaram a levar em conta atitudes socialmente responsáveis das organizações como fator importante na hora de aplicar dinheiro.
Bolsas de valores no Brasil e no mundo criaram índices de sustentabilidade para apontar as companhias que apostam em governança corporativa, iniciativas para melhorar o relacionamento com empregados, fornecedores e comunidade e diminuir o impacto ambiental de suas atividades. Esses indicadores se tornaram uma ferramenta de mercado valiosa para aqueles que procuram apoiar essas empresas e um estímulo para que outras companhias também incorporem práticas sustentáveis na gestão.
Lançado em 1999, o Índice de Sustentabilidade Dow Jones (Dow Jones Sustainability Indexes – DJSI), da Bolsa de Valores de Nova York (EUA), foi o primeiro indicador global de monitoramento do desempenho financeiro das empresas sustentáveis. Atualmente, mais de US$ 8 bilhões estão investidos em fundos que se baseiam exclusivamente nessas empresas. No balanço divulgado em setembro de 2011, 342 organizações de 30 países participam do índice, dentre elas oito brasileiras.
Aqui no Brasil, foi a partir de 2005 que a Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros de São Paulo (BM&FBovespa), em parceria com o Ministério do Meio Ambiente, Instituto Ethos, Fundação Getúlio Vargas e outras cinco instituições, criou o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), que lista as organizações com práticas sustentáveis.
Para fazer parte do índice, empresas recebem anualmente um questionário em que são avaliadas questões sociais, econômicas e ambientais. Em novembro deste ano, a BM&FBovespa anunciou a sétima carteira do índice, que vale de 2 de janeiro a 31 de dezembro de 2012, composta por 51 ações de 38 companhias
Sustentabilidade na bolsa
A influência das ações sustentáveis no desempenho na bolsa avança, ainda que a passos lentos
Enquanto as bolsas se movimentam em torno de novos fundos e índices relacionados à sustentabilidade, as empresas se vêem diante de uma nova questão: as ações sustentáveis levam, de fato, a um desempenho diferenciado na bolsa? Para Daniel Domeneguetti, sócio do Grupo ECC, CEO da DOM Strategy Partners e co-autor do livro “Ativos Intangíveis, o Real Valor das Empresas” (Campus Elsevier), esse impacto ainda é pequeno, mas o avanço da economia verde é irreversível.
Como funciona hoje o atrelamento de ações sustentáveis a ações da bolsa?
A “cola” disso é o conceito de que sustentabilidade é um ativo – de ordem intangível, como marca, inovação, conhecimento. O raciocínio que está por trás disso é: se é um ativo, tem valor. Se tem valor, tem que ser medido. Porém, mensurar o intangível sempre é muito difícil. O que o mercado de capitais e, portanto, as bolsas fazem é pegar as empresas que teoricamente mais investem em sustentabilidade – aquelas que seguem réguas internacionais do tipo Global Reporting Initiative (GRI) e têm investimentos estruturados em sustentabilidade - para formar índices paralelos com as ações dessas empresas, desde que elas sejam de capital aberto. Tudo isso só tem sentido se a gente acreditar que uma empresa sustentável vale mais do que uma empresa não sustentável.
A criação desses fundos e índices é o reflexo de uma mudança no mercado ou funciona como uma tentativa de dar um impulso?
Na verdade, deveria ser a formalização de algo que já é valorizado. O preço de uma ação tem o componente tangível – seus resultados, produção, capital – e o intangível. Para setores como infraestrutura, como siderurgia, a parte tangível geralmente é maior. Para um setor de moda, de internet, é o contrário. O problema é que o ativo intangível é fruto de percepção. Você, consumidor, acha que aquela marca vale ou não. É da guerra das percepções que se forma o preço instantaneamente. A sustentabilidade é um ativo que, como é intangível, quando bem orquestrado, melhora a reputação, se encaixa em uma boa governança e provavelmente aumenta o valor da empresa.
Pode também virar um tiro no pé?
Pode, como ocorreu com a Chevron. Um ativo intangível que gerou um ativo tangível. Se não cuidar bem do ativo que está gerenciando, o valor da ação paga o preço. Tem que gerir bem sua marca, sua inovação, seu relacionamento com os clientes, seus talentos, sua sustentabilidade, sua governança. Senão, o fruto das percepções diminui o valor da empresa.
Como avalia o movimento nas bolsas, no sentido de valorizar essas ações, que são de longo prazo?
A gente percebe, de maneira geral – até por conta das crises e da maturidade que o mercado está atingindo –, que o investidor também está se aculturando para não olhar resultado só de curto prazo e tentar entender que ativos intangíveis garantem o valor a longo prazo. A sustentabilidade entra nessa equação. Além disso, ela não pode ser vista de forma isolada dos outros intangíveis.
Hoje, as ações das empresas sustentáveis têm, de fato, tido desempenho diferenciado na bolsa?
Ainda estamos falando de uma parcela muito pequena de pessoas que se mobilizam para investir por uma questão de sustentabilidade. Por mais que tenha impacto, é pequeno. Mas indiscutivelmente a tendência é crescer.
Em que estágio estamos hoje?
Qual é o ator que dá grandiosidade ao tema e que ainda não entrou no jogo? O consumidor. A hora que o consumidor passar a considerar isso no seu processo de escolha, premiando e punindo empresas, aí veremos as coisas mudarem nas bolsas. Isso acontece bem aos poucos. E, em um país como o Brasil, onde as classes C e D estão consumindo pela primeira vez, isso não é prioridade. Mas é um processo evolutivo. Por isso, a questão da educação para o consumo se torna importante.
Em que setores essa mudança está mais avançada?
Por incrível que pareça, os setores mais avançados são os mais distantes do consumidor, como o de infraestrutura, indústria farmacêutica e química, que estão sempre sujeito a punições mais fortes.
Essa tendência vai chegar aos outros setores?
Claro que vai. É irreversível. À medida que o mercado vai se sofisticando, as empresas de serviço vão chegar lá. Mas está começando pela indústria de base por uma questão de compliance.
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